segunda-feira, 12 de julho de 2010

JORNAL DO COMÉRCIO (RECIFE)

Sob o Encanto de Zé do Norte.
Autor do sucesso Mulher rendeira tem a obra resgatada pela cantora paraibana Socorro Lira no disco Lua bonita

por Zé Teles, 26 de junho de 2010

Cantor, compositor, poeta, folclorista, escritor, ator, Alfredo Ricardo do Nascimento, ou Zé do Norte, um paraibano nascido em Cajazeiras, em 1908, foi sucesso internacional com Mulher rendeira (que adaptou de uma canção atribuída a Lampião), em 1953, cantada na trilha O cangaceiro, de Lima Barreto. Mulher rendeira desde então recebeu centenas de gravações, no Brasil e no exterior. No mesmo filme, Zé do Norte tornou conhecida outras composições: Sodade, meu bem, sodade, Lua bonita, Meu pião. Ele continuou compondo e gravando até meados dos anos 70.

Daí em diante foi caindo no esquecimento popular, embora, vez por outra, fosse lembrado por artistas como Caetano Veloso (que usa trechos de Sodade, meu bem, sodade, no disco Transa, 1972), Geraldo Azevedo, que gravou Meu pião (no álbum Bicho de 7 cabeças, 1979), ou Lua bonita, que foi gravada por Raul Seixas (A pedra do Gênesis, 1988).

Zé do Norte tem vários outros clássicos, que ele próprio registrou em discos (todos fora de catálogo) e tem parte de sua obra, literalmente, resgatada, pela cantora e compositora Socorro Lira, paraibana de Brejo da Cruz. Socorro lançou, com patrocínio do BNB, o CD Lua bonita, uma homenagem ao centenário do compositor, acontecido há dois anos: "O disco só pôde ser terminado agora. É um projeto que comecei há cinco anos, quando vim morar em São Paulo. O jornalista Assis Ângelo, que tem um programa de rádio com grande audiência, me mostrou os discos de Zé do Norte, e quando comecei a série Memória Musical Paraibana, ele foi um dos autores que decidi gravar". A série foi aberta com o disco dedicado ao compositor Zé Marcolino (Sala de reboco, Serrote agudo), depois vieram CDs com o Coco de Caiana, formado por descendentes de quilombolas, de Alagoa Grande, Sertão da Paraíba.

O projeto Zé do Norte foi inscrito em vários editais de incentivo à cultura, e rejeitado por quase todos. A exceção foi o BNB, que o aprovou. "Foi um valor tão pequeno, que não deu para terminá-lo. Voltei ao banco e consegui o que faltava para finalizar o disco", conta Socorro Lira, que fez a seleção do repertório, escolhendo as músicas com o amigo Assis Ângelo. "Escolhemos alguns sucessos, e também umas menos conhecidas. Zé do Norte deixou muita coisa inédita, em partituras. Podia ter escolhido algumas dessas, mas encareceria o projeto, e a grana não dava para isto."

Mesmo com verba curta, a cantora conseguiu fazer um disco que faz jus à memória do homenageado, com participações especiais de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Sandra Belê, Zé Paulo Medeiros e Vanja Orico, e uma faixa bônus com Zé do Norte declamando um poema (extraída da gravação de uma entrevista concedida por ele ao Jornal do Brasil, em 1977). "Isto foi possível graças à amizade que tenho com alguns deles, e pela admiração que outros têm a Zé do Norte. Se fossem cobrar cachê, eu não teria como pagar", diz Socorro Lira. As participações aconteceram por acaso, ou sorte. Geraldo Azevedo, ela encontrou numa viagem a Juazeiro do Norte: "Ela já havia gravado Meu pião, combinamos para ele cantar Lua bonita. Foi Geraldo que sugeriu que eu convidasse Elba Ramalho e Vanja Orico, com quem eu não tinha contato. Acabei indo ao Rio, conheci Vanja e nos demos muito bem. Ela vai fazer 80 anos, conversa muito, contou todas as histórias possíveis e imagináveis das filmagens de O cangaceiro, de Zé do Norte, do diretor Lima Barreto". Vanja Orico, atuou no filme e canta Mulher rendeira e Sodade, meu bem, sodade, que ela voltou a gravar neste disco, num dueto com Socorro Lira.

A cantora tem uma discografia com duas vertentes, a de músicas autorais, já com seis títulos, alguns lançados na Europa, e esta, de preservação da memória da música paraibana. "O próximo disco que penso em fazer na série Memória é com a música de Cátia de França. Enquanto isso vou divulgando este disco. Dependendo do contratante, posso cantar com a banda, ou viajamos eu e Júlio Caldas, que fez os arranjos no disco e toca muito bem violão ou viola".

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