segunda-feira, 12 de julho de 2010

JORNAL CORREIO DE UBERLÂNDIA (MG)

O tributo a Zé do Norte

por Carlos Guimarães Coelho, 06 de julho de 2010.

Admiráveis são os artistas que têm o talento, a generosidade e a coragem de corrigir distorções da história devolvendo a quem caiu no ostracismo o mérito por sua construção artística. Nesse sentido, a cantora e compositora paraibana, Socorro Lira, prestou um serviço à música brasileira ao lançar o CD “Lua Bonita”, no qual resgata o repertório do músico pernambucano Alfredo Ricardo do Nascimento, o Zé do Norte, autor de “Mulher rendeira”, “Sodade, meu bem, sodade”, entre outras preciosidades musicais.

Quando Socorro se iniciou na carreira musical, Zé do Norte já havia morrido e, décadas antes de sua morte, caído no esquecimento. O que ambos têm em comum, além do amor à música, são as origens simples do ambiente sertanejo e, em decorrência, o apreço às coisas mais simples da vida e da terra, de onde retiram a poesia e a musicalidade.

Ela, embora já com expressiva trajetória no terreno da Música Popular Brasileira (MPB), não é tão conhecida no campo da diversidade musical que é o Brasil. Ele, embora muitos não saibam, é um grande nome da MPB, responsável pelo estrondoso sucesso que repercutiu no mundo inteiro por várias gerações, a canção “Mulher Rendeira”, composta sobre motivo atribuído a Lampião e regravada por nomes universais como Joan Baez, Domenico Modugno e Michel Legrand.

Socorro resgatou, na contemporaneidade, a obra deste compositor fabuloso a quem ela própria ofertou a chancela de “Villa-Lobos do sertão brasileiro”, atribuindo ao paraibano a mesma importância para o país que teve o músico erudito.

Zé do Norte ficou conhecido também por outros sucessos, destacando “Sodade meu Bem, sodade” de 1955, celebrizada nas vozes de vários intérpretes famosos, como Nana Caymmi e Maria Bethânia. Essa música também se tornou mundialmente conhecida por estar em uma das cenas mais antológicas do cinema brasileiro, no filme “O Cangaceiro”, da Vera Cruz, o primeiro e talvez mais importante fenômeno do cinema nacional, premiado em Cannes e com repercussão pelo mundo inteiro.

No filme de Lima Barreto, cuja trilha tinha também “Mulher rendeira”, a música “Sodade meu bem, sodade” era interpretada pela atriz Vanja Orico, uma artista que chegou a ser dirigida por Fellini. Vanja participa no disco de Socorro, interpretando com ela a canção que ajudou a consagrar. Além de Vanja, o disco de Socorro traz outros nomes fortes em participações especiais, como Elba Ramalho e Geraldo Azevedo.

É um disco leve, eclético, com toadas, maxixes, xotes e cantigas. Mesmo para quem não aprecia o gênero, é agradável aos ouvidos e tem a diversidade musical para embalar momentos prazerosos até aos mais exigentes. Socorro Lira revela-se com este trabalho uma boa pesquisadora e artista comprometida com os conteúdos apresentados. Presta a Zé do Norte um tributo e, com isso, ajuda o país a se redimir da culpa de quase deixar um grande músico cair no ostracismo.

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