terça-feira, 20 de julho de 2010

BLOG DO MAURO FERREIRA

Leve, 'Lua Bonita' ilumina a obra de Zé do Norte

Por Mauro Ferreira para o blog do jornalista.

Veiculada em âmbito mundial no ritmo do baião, ao ser posta em rotação na trilha sonora do premiado filme O Canganceiro (1953), a toada Mulher Rendeira é o maior sucesso da obra esquecida de Alfredo Ricardo do Nascimento, conhecido como Zé do Norte (1908 - 1992). Gravada em diversos idiomas, Mulher Rendeira recupera no disco Lua Bonita o andamento original - mais lento, como se fosse um acalanto - com que a toada foi adaptada por Zé do Norte a partir de um tema tradicional do folclore. Mulher Rendeira é uma das 11 músicas do álbum em que a cantora Socorro Lira reabilita a obra do cantor, compositor e poeta paraibano - hoje pouco ouvida. Quarto volume do projeto Memória Musical da Paraíba, Lua Bonita - Zé do Norte 100 Anos é o sétimo disco de Socorro e celebra, com dois anos de atraso, o centenário do autor de Sodade, Meu Bem, Sodade - outra toada da trilha de O Cangaceiro, revivida por Socorro em dueto afetivo com Vanja Orico, atriz do filme dirigido pelo cineasta Lima Barreto (1906 - 1982) com roteiro de Rachel de Queiroz (1910 - 2003). Com leveza, Lua Bonita ilumina obra de grandeza ímpar com adesões de Elba Ramalho (no xote Flor do Campo), Geraldo Azevedo (no xote que dá título ao disco, Lua Bonita, arranjado pelo próprio Geraldo), Sandra Belê (no coco Balança a Rede) e Zé Paulo Medeiros (na canção São Jorge e a Lua). Um cancioneiro bem eclético. Natural de Cajazeiras, no sertão da Paraíba, Zé do Norte rompeu com sua obra as fronteiras musicais da região onde nasceu - talvez pelo fato de ter migrado para o Rio de Janeiro (RJ). Seu repertório autoral abrange tanto um carimbó - Vai Ver Quem Chegou, temperado com o molho rítmico do Norte do Brasil - quanto um tema afro (No Reino de Iemanjá) e um maxixe (Rainha de Tamba). Temas revividos pelo canto melodioso de Socorro Lira - tão leve quanto os arranjos de Júlio Caldas - neste disco encerrado com a voz do próprio Zé do Norte, que recita os versos de O Poeta em gravação extraída de entrevista concedida pelo compositor em 1977 a uma emissora de rádio de Salvador (BA). Por mais que surjam eventualmente algumas controvérsias sobre a verdadeira autoria de músicas registradas por Zé do Norte como dele (por ter sido folclorista, há quem defenda a tese de que alguns temas teriam sido recolhidos, e não compostos, pelo artista), a obra atribuída ao poeta é de grande valor e merece sair da sombra e ser apreciada sob a luz de Lua Bonita - belo tributo de Socorro.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

JORNAL DO COMÉRCIO (RECIFE)

Sob o Encanto de Zé do Norte.
Autor do sucesso Mulher rendeira tem a obra resgatada pela cantora paraibana Socorro Lira no disco Lua bonita

por Zé Teles, 26 de junho de 2010

Cantor, compositor, poeta, folclorista, escritor, ator, Alfredo Ricardo do Nascimento, ou Zé do Norte, um paraibano nascido em Cajazeiras, em 1908, foi sucesso internacional com Mulher rendeira (que adaptou de uma canção atribuída a Lampião), em 1953, cantada na trilha O cangaceiro, de Lima Barreto. Mulher rendeira desde então recebeu centenas de gravações, no Brasil e no exterior. No mesmo filme, Zé do Norte tornou conhecida outras composições: Sodade, meu bem, sodade, Lua bonita, Meu pião. Ele continuou compondo e gravando até meados dos anos 70.

Daí em diante foi caindo no esquecimento popular, embora, vez por outra, fosse lembrado por artistas como Caetano Veloso (que usa trechos de Sodade, meu bem, sodade, no disco Transa, 1972), Geraldo Azevedo, que gravou Meu pião (no álbum Bicho de 7 cabeças, 1979), ou Lua bonita, que foi gravada por Raul Seixas (A pedra do Gênesis, 1988).

Zé do Norte tem vários outros clássicos, que ele próprio registrou em discos (todos fora de catálogo) e tem parte de sua obra, literalmente, resgatada, pela cantora e compositora Socorro Lira, paraibana de Brejo da Cruz. Socorro lançou, com patrocínio do BNB, o CD Lua bonita, uma homenagem ao centenário do compositor, acontecido há dois anos: "O disco só pôde ser terminado agora. É um projeto que comecei há cinco anos, quando vim morar em São Paulo. O jornalista Assis Ângelo, que tem um programa de rádio com grande audiência, me mostrou os discos de Zé do Norte, e quando comecei a série Memória Musical Paraibana, ele foi um dos autores que decidi gravar". A série foi aberta com o disco dedicado ao compositor Zé Marcolino (Sala de reboco, Serrote agudo), depois vieram CDs com o Coco de Caiana, formado por descendentes de quilombolas, de Alagoa Grande, Sertão da Paraíba.

O projeto Zé do Norte foi inscrito em vários editais de incentivo à cultura, e rejeitado por quase todos. A exceção foi o BNB, que o aprovou. "Foi um valor tão pequeno, que não deu para terminá-lo. Voltei ao banco e consegui o que faltava para finalizar o disco", conta Socorro Lira, que fez a seleção do repertório, escolhendo as músicas com o amigo Assis Ângelo. "Escolhemos alguns sucessos, e também umas menos conhecidas. Zé do Norte deixou muita coisa inédita, em partituras. Podia ter escolhido algumas dessas, mas encareceria o projeto, e a grana não dava para isto."

Mesmo com verba curta, a cantora conseguiu fazer um disco que faz jus à memória do homenageado, com participações especiais de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Sandra Belê, Zé Paulo Medeiros e Vanja Orico, e uma faixa bônus com Zé do Norte declamando um poema (extraída da gravação de uma entrevista concedida por ele ao Jornal do Brasil, em 1977). "Isto foi possível graças à amizade que tenho com alguns deles, e pela admiração que outros têm a Zé do Norte. Se fossem cobrar cachê, eu não teria como pagar", diz Socorro Lira. As participações aconteceram por acaso, ou sorte. Geraldo Azevedo, ela encontrou numa viagem a Juazeiro do Norte: "Ela já havia gravado Meu pião, combinamos para ele cantar Lua bonita. Foi Geraldo que sugeriu que eu convidasse Elba Ramalho e Vanja Orico, com quem eu não tinha contato. Acabei indo ao Rio, conheci Vanja e nos demos muito bem. Ela vai fazer 80 anos, conversa muito, contou todas as histórias possíveis e imagináveis das filmagens de O cangaceiro, de Zé do Norte, do diretor Lima Barreto". Vanja Orico, atuou no filme e canta Mulher rendeira e Sodade, meu bem, sodade, que ela voltou a gravar neste disco, num dueto com Socorro Lira.

A cantora tem uma discografia com duas vertentes, a de músicas autorais, já com seis títulos, alguns lançados na Europa, e esta, de preservação da memória da música paraibana. "O próximo disco que penso em fazer na série Memória é com a música de Cátia de França. Enquanto isso vou divulgando este disco. Dependendo do contratante, posso cantar com a banda, ou viajamos eu e Júlio Caldas, que fez os arranjos no disco e toca muito bem violão ou viola".

LUA BONITA NA RÁDIO UOL

Ouvir o CD LUA BONITA

http://www.radio.uol.com.br/#/album/socorro-lira/lua-bonita---ze-do-norte-100-anos/20029

PORTAL PARAÍBA

A cantora paraibana Socorro Lira foi a primeira a se apresentar, trazendo para o palco músicas como ‘Sapato de Algodão’, ‘Balança a Rede e Mulher Rendeira’, todas do CD ‘Lua Bonita’, homenageando o compositor paraibano Zé do Norte. A segunda atração da noite foi à banda de Pífanos de Caruaru. No palco, os integrantes contagiaram o público com um repertório repleto de baião, samba-matuto, xote, xaxado, frevo e forró, a maioria do CD ‘Tudo Isso É São João’, lançado em 1999 com músicas juninas.

Secom-JP

SNN SISTEMA NORDESTE DE NOTÍCIAS

A cantora paraibana Socorro Lira foi a primeira a se apresentar, trazendo para o palco músicas como ‘Sapato de Algodão’, ‘Balança a Rede e Mulher Rendeira’, todas do CD ‘Lua Bonita’, homenageando o compositor paraibano Zé do Norte. A segunda atração da noite foi à banda de Pífanos de Caruaru. No palco, os integrantes contagiaram o público com um repertório repleto de baião, samba-matuto, xote, xaxado, frevo e forró, a maioria do CD ‘Tudo Isso É São João’, lançado em 1999 com músicas juninas.

Fonte: Redação com Secom/JP

JORNAL DO BRASIL

Nelson Gobbi, Terça-feira, 15 de Junho de 2010

Conhecido por temas que se tornaram parte da cultura popular, Zé do Norte (19081979) tem sua obra celebrada no álbum Lua bonita. Ao lado de convidados como Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Vanja Orico, a cantora Socorro Lira interpreta canções como Mulher rendeira e Sodade, meu bem, sodade.

JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO (SP)

Que mania é essa, sujeito?

Por José Neumanne Pinto, Jornal O Estado de São Paulo, 03 de julho de 2010.

Alfredo Ricardo do Nascimento, vulgo Zé do Norte, era sertanejo de Cajazeiras, no alto sertão paraibano.

Sua cidade fica perto de Orós, Ceará, terra de Raimundo Fagner, e de Brejo do Cruz, no limite da Paraíba com o Rio Grande do Norte, cidade natal de Zé Ramalho e da cantora Socorro Lira. Os xarás se conheceram e chegaram a provar uns chopes muito bem tirados, acompanhados de tremoços, num restaurante alemão simpático da Lapa carioca, o Bar Brasil. A morena Socorro, dona de uma voz melodiosa e cristalina, é de outro tempo, outra geração, outro feitio. Mas agora ela e ele estão reunidos no CD Lua Bonita, em que a cantora registrou 11 canções clássicas da Música Popular Brasileira, todas com autoria atribuída a Zé do Norte, nem todas de fato compostas por ele. Na mais famosa, Mulher rendeira, Socorro recorreu a um artifício esperto: deu a cantiga de ninar como de domínio público (DP), com adaptação de quem se dizia o autor.

De certa forma, a cantora incorporou o espírito malandro do homenageado. Este, sim, apesar de egresso das brenhas do interior nordestino, aprendeu todos os truques da malandragem carioca vivendo ao lado de Cartola, Carlos Cachaça e outros compositores de renome do morro da Mangueira, no Rio. No convívio com esses bambas da Estação Primeira, ele deve ter ouvido a sentença atribuída a Sinhô, da nata dos sambistas dos anos 30, a Época de Ouro da música brasileira: “samba é como passarinho, está no ar, é de quem pegar”. E tratou de registrar como da autoria dele canções que ouviu a mãe no sertão ou algum companheiro de caserna afinado em Fortaleza cantar ou, quem sabe, em terreiros de macumba no Rio mesmo. Mas nem depois de haver tomado todas, jamais revelou ao amigo mais fiel que músicas ele de fato compôs e de quais ele assumiu a autoria. Típico personagem de Rio, Zona Norte, clássico do Cinema Novo, de Nelson Pereira dos Santos, ele não foi nisso original. Patativa do Assaré não acusava Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, de se impor como parceiro em canções que não compusera? E o maestro Heitor Villa Lobos não adaptou temas de DP (como Ó, mana, deixa eu ir, também do folclore paraibano) nas Bachianas?

Certo é que Mulher rendeira já era cantada no sertão antes de Zé do Norte ser dado como gente na então capital federal. Há quem diga que seu autor é Virgolino Ferreira da Silva, o temido cangaceiro Lampião. Mas é mais provável que tenha sido adaptada e recebido acréscimos ao longo do tempo. E não é de todo improvável que algumas estrofes tenham sido criadas por aquele que a adotaria como obra dele.

De qualquer maneira, a cantiga foi o ponto de partida da carreira artística que catapultou Alfredo Ricardo do Nascimento para a fama como Zé do Norte. Boa praça, com muita verve, ele se tinha tornado amigo de intelectuais cariocas. Cantando uma embolada que fez imenso sucesso no espetáculo Aldeia Portuguesa, aproximou-se de Joracy Camargo, letrista musical e autor do maior êxito de bilheteria do teatro na virada dos anos 40 para os 50: Deus lhe pague, protagonizado por Procópio Ferreira.

Pelas mãos de outra escritora e jornalista renomada, a cearense Rachel de Queiroz, foi indicado para a equipe da produção cinematográfica de O cangaceiro, dirigida pelo paulista Lima Barreto, como consultor de prosódia sertaneja. Terminou sendo o “autor” da trilha sonora, interpretada por Vanja Orico, também atriz e filha de um político renomado da época, Osvaldo Orico. O sucesso da fita em Cannes e nas bilheterias e da trilha elevou Zé do Norte ao Olimpo do cancioneiro popular nacional.

Vanja, assim como Elba Ramalho, Geraldinho Azevedo, Sandra Belê e Zé Paulo Medeiros, tem participação especial no belíssimo CD de Socorro Lira. Divide a interpretação de Sodade, meu bem, sodade, uma obra-prima do lirismo musical sertanejo que, graças ao talento e à esperteza de Zé do Norte, se imortalizou. E, mercê da sensibilidade de Socorro Lira, encanta ouvintes de hoje, como antes já fizera.

Morto aos 71 anos, em 1979, Alfredo Ricardo do Nascimento levou para o túmulo o segredo do que seu heterônimo Zé do Norte realmente compôs ou do que retirou do limbo do anonimato nas brenhas para projetar na glória das execuções no rádio e na televisão pelo mundão além das porteiras do sertão. Socorro Lira, com a ajuda do pesquisador Assis Ângelo, outro paraibano, resgatou a obra e a saga de seu conterrâneo, mostrando que cada canção, por ele composta ou trazida a lume, vale esse preito à alegria, à malícia e à criatividade do sertanejo que, escolado nas manhas de sobreviver, fez-se malandro carioca de escol, chapéu de feltro e cachecol

JORNAL CORREIO DE UBERLÂNDIA (MG)

O tributo a Zé do Norte

por Carlos Guimarães Coelho, 06 de julho de 2010.

Admiráveis são os artistas que têm o talento, a generosidade e a coragem de corrigir distorções da história devolvendo a quem caiu no ostracismo o mérito por sua construção artística. Nesse sentido, a cantora e compositora paraibana, Socorro Lira, prestou um serviço à música brasileira ao lançar o CD “Lua Bonita”, no qual resgata o repertório do músico pernambucano Alfredo Ricardo do Nascimento, o Zé do Norte, autor de “Mulher rendeira”, “Sodade, meu bem, sodade”, entre outras preciosidades musicais.

Quando Socorro se iniciou na carreira musical, Zé do Norte já havia morrido e, décadas antes de sua morte, caído no esquecimento. O que ambos têm em comum, além do amor à música, são as origens simples do ambiente sertanejo e, em decorrência, o apreço às coisas mais simples da vida e da terra, de onde retiram a poesia e a musicalidade.

Ela, embora já com expressiva trajetória no terreno da Música Popular Brasileira (MPB), não é tão conhecida no campo da diversidade musical que é o Brasil. Ele, embora muitos não saibam, é um grande nome da MPB, responsável pelo estrondoso sucesso que repercutiu no mundo inteiro por várias gerações, a canção “Mulher Rendeira”, composta sobre motivo atribuído a Lampião e regravada por nomes universais como Joan Baez, Domenico Modugno e Michel Legrand.

Socorro resgatou, na contemporaneidade, a obra deste compositor fabuloso a quem ela própria ofertou a chancela de “Villa-Lobos do sertão brasileiro”, atribuindo ao paraibano a mesma importância para o país que teve o músico erudito.

Zé do Norte ficou conhecido também por outros sucessos, destacando “Sodade meu Bem, sodade” de 1955, celebrizada nas vozes de vários intérpretes famosos, como Nana Caymmi e Maria Bethânia. Essa música também se tornou mundialmente conhecida por estar em uma das cenas mais antológicas do cinema brasileiro, no filme “O Cangaceiro”, da Vera Cruz, o primeiro e talvez mais importante fenômeno do cinema nacional, premiado em Cannes e com repercussão pelo mundo inteiro.

No filme de Lima Barreto, cuja trilha tinha também “Mulher rendeira”, a música “Sodade meu bem, sodade” era interpretada pela atriz Vanja Orico, uma artista que chegou a ser dirigida por Fellini. Vanja participa no disco de Socorro, interpretando com ela a canção que ajudou a consagrar. Além de Vanja, o disco de Socorro traz outros nomes fortes em participações especiais, como Elba Ramalho e Geraldo Azevedo.

É um disco leve, eclético, com toadas, maxixes, xotes e cantigas. Mesmo para quem não aprecia o gênero, é agradável aos ouvidos e tem a diversidade musical para embalar momentos prazerosos até aos mais exigentes. Socorro Lira revela-se com este trabalho uma boa pesquisadora e artista comprometida com os conteúdos apresentados. Presta a Zé do Norte um tributo e, com isso, ajuda o país a se redimir da culpa de quase deixar um grande músico cair no ostracismo.

JORNAL DA CIDADE DE BAURU (SP)

Uma celebração a Zé do Norte.
Em “Lua Bonita”, a cantora Socorro Lira traz uma amostra daquele que conseguiu enxergar o Brasil por completo.

por Karla Beraldo, 22 de junho de 2010.

Alfredo Ricardo do Nascimento, o Zé do Norte, nasceu em Cajazeiras, sertão da Paraíba, e suas composições ficaram conhecidas por darem conta da riqueza musical do Brasil “de dentro”. Quarto volume do projeto Memória Musical da Paraíba (MMPB) de Socorro Lira, “Lua Bonita” pretende ser uma amostra do legado daquele que conseguiu enxergar o Brasil por completo.

Interpretado e produzido pela cantora e compositora, o disco em homenagem ao centenário de nascimento do Zé do Norte (1908-2008) contou com as participações especiais de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Sandra Belê, Vanja Orico e Zé Paulo Medeiros e traz, entre outras, canções da trilha de “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, filme responsável por tornar o compositor paraibano mundialmente conhecido.

“‘Lua Bonita’ é um retalho, um pedacinho da obra do Zé do Norte que é muito mais ampla, vasta. O que pretendemos é que o disco traga o nome desse compositor, principalmente para a juventude, que precisa ouvir uma obra que representa a identidade do povo brasileiro”, resume a artista também paraibana sobre o disco. “Lua Bonita” é composto por 12 faixas, entre elas “Mulher Rendeira”, “Balança a Rede”, “No Reino de Iemanjá”, “São Jorge e a Lua”, “Sodade, Meu Bem, Sodade” e “O Poeta”.

“Nós somos de uma mesma região e embora de épocas diferentes temos um pouco das mesmas referências musicais. E eu gosto muito dessa perspectiva presente na obra dele de um Brasil mais amplo, um Brasil de referências culturais do povo de cada lugar”, comenta. Para Socorro, se hoje tem-se a necessidade e o dever de olhar para as coisas que vêm do “interior”, é a Zé do Norte que se deve agradecer. “Em 1950, ele gravava coisas que ninguém se atreveria a gravar, porque eram coisas do pobre, do negro; aquela coisa do sambista carioca de gravar só música do morro, Zé do Norte fazia gravando as coisas do interior da Paraíba, falando do jeito que falamos lá”.

Com intuito de promover a cultura nordestina, além de “Lua Bonita”, o projeto MMPB já rendeu os CDs “Ciranda, Coco-de-Roda e Outros Cantos”, com o canto-dança da comunidade de Caiana dos Crioulos, de Alagoa Grande; “Pedra de Amolar”, em homenagem ao compositor Zé Marcolino; e “Desencosta da Parede”, também da comunidade de Caiana dos Crioulos.

Quanto aos seus trabalhos autorais, Socorro soma seis lançamentos: “Cantigas” (2001); “Cantigas de Bem Querer” (2003); “Intersecção - A Linha e o Ponto (2006)”, cujo lançamento foi realizado em Bauru, em apresentação da cantora no Sesc; “As Liras Pedem Socorro” (2007); “No Terreiro da Casa de Mãe Joana” (2009); e “Cores do Atlântico”, lançado este ano somente na Europa.

JORNAL O NORTE (PB)

Socorro Lira canta Zé do Norte, no São João de João Pessoa.

William Costa,28 de junho de 2010.

Quem quiser dançar, pode dançar a vontade, mas o show que a cantora e compositora paraibana Socorro Lira faz hoje, a partir das 18h, no Ponto de Cem Réis, no centro da cidade, dentro da programação do São João de João Pessoa - O Melhor da Gente, promovido pelo governo municipal, é, na verdade, um concerto para se ouvir com muita atenção. É que a artista traz no repertório xotes, maxixes, cantigas, cocos, macumbas, canções-choros, toadas e carimbós do genial Zé do Norte (1908-1992), reunidos em seu novo disco, Lua Bonita, dedicado ao autor de 'Meu pião' e 'Sodade, meu bem, sodade'.


Lira preparou espetáculo para ser visto, ouvido e dançado com atenção Foto:Val Portásio/D.A Press
Em entrevista exclusiva, Socorro Lira revelou que queria fazer um disco em homenagem a Zé do Norte desde 2005, ano em que o jornalista e pesquisador musical Assis Ângelo, também da Paraíba, lhe apresentou à obra deste artista, cujo lugar de honra, na memória da cultura brasileira, ainda está por ocupar. "Eu ouvia Zé do Norte, ainda menina, pelo rádio (ela nasceu na zona rural do município de Brejo do Cruz, no interior da Paraíba), mas foi ao visitar o acervo de Assis Ângelo, em São Paulo, que cheguei a uma conclusão definitiva sobre esta bela e valiosa obra, tão necessária ao Brasil", disse.

A diversidade rítmica que caracteriza o legado de Zé do Norte logicamente está presente, também, no repertório de Lua Bonita. O disco tem as participações especiais de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Sandra Belê, Vanja Orico e Zé Paulo Medeiros. A escolha dos parceiros foi feita com a ajuda de Geraldinho, durante um encontro entre Socorro e o cantor e compositor pernambucano, numa viagem de avião. "Foram indicações preciosas, as de Geraldinho, pois os artistas representam várias gerações de artistas brasileiros, todas totalmente identificadas com o cancioneiro popular e fãs incondicionais de Zé do Norte", elogiou.

Dá gosto ouvir Lua Bonita. Nele, Socorro Lira atinge a perfeição das coisas simples. O acompanhamento e os arranjos em nenhum momento são excessivos. Tambores, violões, flautas, congas, ganzás, sanfonas, cítaras de cabaça, guitarras, baixos e cellos se harmonizam com perfeição à cadência dos versos de Zé do Norte, sem falar no ornamento sonoro dos vocais, a lembrar que música popular é, essencialmente, produção coletiva.

JORNAL ESTADO DE MINAS (MG)

Memória da música popular
A cantora paraibana Socorro Lira lança o disco Lua bonita, com repertório de canções de Zé do Norte, autor de clássicos como Mulher rendeira e Sodade, meu bem, sodade.

Por Eduardo Girão, 10 de julho de 2010.

O paraibano Zé do Norte compôs e adaptou canções que se tornaram bem conhecidas do público brasileiro, como Mulher rendeira e Meu pião. Foi gravado por gente como Raul Seixas, Caetano Veloso, Inezita Barroso, o pianista francês Michel Legrand e a cantora norte-americana Joan Baez. “As pessoas se lembram de Mulher rendeira e acham que outras canções, como Sodade, meu bem, sodade, são do Caetano. Zé do Norte está totalmente esquecido”, afirma a cantora Socorro Lira, conterrânea que acaba de lançar Lua bonita (Liraprocult), disco em que revisita parte da obra dele.

“Ouço Zé do Norte desde criança, pois tocava no rádio. Em São Paulo, porém, foi onde tive maior contato com a obra dele. Fiquei impressionada com a visão de Brasil dele, em termos de música. Na década de 1950, ele começou a levar para o rádio linguagem considerada inculta, por ser do povo. Nem era tido como arte. Isso foi muito revolucionário. A principal contribuição dele foi afirmar positivamente esse tipo de expressão cultural, que não fazia parte da ‘corte’ e era cantada por matutos, estava em terreiros de candomblé. Foi um dos grandes propagadores da identidade brasileira”, analisa ela.

Lua Bonita tem 11 de suas 12 faixas identificadas com os respectivos gêneros (coco, maxixe, xote etc). “Aprendi com Zé do Norte a fazer isso. Assim dá para imaginar imediatamente onde cada música foi feita. A música brasileira é muito diversificada e nem sempre isso foi bem observado. No entanto, ele soube explorar isso muito bem”, explica a cantora. A exceção fica por conta da última, O poeta, que consiste de versos recitados pelo próprio artista em 1977, durante entrevista concedida à Rádio Jornal do Brasil, em Salvador.

O repertório é aberto com Meu pião e prossegue com canções como Rainha de tamba, Mulher rendeira, No reino de Iemanjá, Sapato de algodão e Vai ver quem chegou. Convidados especiais dão toque especial às canções Lua bonita (Geraldo Azevedo), Sodade, meu bem, sodade (Vanja Orico), São Jorge e a Lua (Zé Paulo Medeiros), Balança a rede (Sandra Belê) e Flor do campo (Elba Ramalho). Os arranjos são de Júlio Caldas em colaboração com os instrumentistas Lifanco, Olívio Filho, Ricardo Vignini, Zé da Flauta, Cássia Maria, Rosa Macedo, Ana Eliza Colomar, Jorge Ribbas e Bruno Serroni, que colaboram no disco.

Pesquisa Além de ter lançado seis discos autorais (um deles, Cores do Atlântico, circulou apenas na Europa), Socorro é idealizadora do projeto Memória Musical da Paraíba, cujo foco está nos artistas tradicionais de sua região natal. A iniciativa já rendeu os CDs Ciranda, coco-de-roda e outros cantos (com o canto-dança da comunidade de Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande; 2003), Pedra de amolar (obra inédita em homenagem ao compositor Zé Marcolino; 2004) e Desencosta da parede (da mesma comunidade de Alagoa Grande; 2007). Luz bonita é o mais recente trabalho dessa série.

ESTAÇÃO NEUMANNE

Que mania é essa, sujeito?

O paraibano Zé do Norte entrou para a história não só por aquilo que fez, mas por aquilo que não fez mas disse que fez. E gravou


José Nêumanne - O Estado de S.Paulo, 03 de julho de 2010.

Alfredo Ricardo do Nascimento, vulgo Zé do Norte, era sertanejo de Cajazeiras, no alto sertão paraibano. Sua cidade fica perto de Orós, Ceará, terra de Raimundo Fagner, e de Brejo do Cruz, no limite da Paraíba com o Rio Grande do Norte, cidade de Zé Ramalho e da cantora Socorro Lira. Os xarás se conheceram e chegaram a provar uns chopes muito bem tirados, acompanhados de tremoços, num restaurante alemão simpático da Lapa carioca, o Bar Brasil. A morena Socorro, dona de uma voz melodiosa e cristalina, é de outro tempo, outra geração, outro feitio. Agora, ela e ele estão reunidos no CD Lua Bonita, em que a cantora registrou 11 canções clássicas da música popular, todas com autoria atribuída a Zé do Norte, nem todas de fato compostas por ele. Na mais famosa, Mulher Rendeira, Socorro recorreu a um artifício esperto: deu a cantiga de ninar como de domínio público (DP), com adaptação de quem se dizia o autor.


A cantora incorporou o espírito malandro do homenageado. Este, sim, apesar de egresso das brenhas do interior nordestino, aprendeu todos os truques da malandragem carioca vivendo ao lado de Cartola, Carlos Cachaça e outros compositores de renome do morro da Mangueira, no Rio. No convívio com esses bambas da Estação Primeira, ele deve ter ouvido a sentença atribuída a Sinhô, da nata dos sambistas dos anos 30: "Samba é como passarinho, está no ar, é de quem pegar." E tratou de registrar como de autoria dele canções que ouviu a mãe no sertão ou algum companheiro de caserna afinado em Fortaleza cantar ou, quem sabe, em terreiros de macumba no Rio mesmo. Mas nem depois de haver tomado todas, jamais revelou ao amigo mais fiel que músicas ele de fato compôs e de quais ele assumiu a autoria. Típico personagem de Rio, Zona Norte, clássico do Cinema Novo, de Nelson Pereira dos Santos, ele não foi nisso original. Patativa do Assaré não acusava Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, de se impor como parceiro em canções que não compusera? E o maestro Villa-Lobos não adaptou temas de DP (como Ó, Mana, Deixa Eu Ir) nas Bachianas?

Certo é que Mulher Rendeira já era cantada no sertão antes de Zé do Norte ser dado como gente na então Capital Federal. Há quem diga que seu autor é Virgolino Ferreira da Silva, o temido cangaceiro Lampião. Mas é mais provável que tenha sido adaptada e recebido acréscimos ao longo do tempo. E não é de todo improvável que algumas estrofes tenham sido criadas por aquele que a adotaria como obra dele.

De qualquer maneira, a cantiga foi o ponto de partida da carreira artística que catapultou Alfredo Ricardo do Nascimento para a fama como Zé do Norte. Boa praça, com muita verve, ele se tinha tornado amigo de intelectuais cariocas. Cantando uma embolada que fez sucesso no espetáculo Aldeia Portuguesa, aproximou-se de Joracy Camargo, letrista e autor do maior êxito de bilheteria do teatro na virada dos anos 40 para 50: Deus lhe Pague, protagonizado por Procópio Ferreira.

Pelas mãos de outra escritora e jornalista renomada, a cearense Rachel de Queiroz, foi indicado para a equipe da produção cinematográfica de O Cangaceiro, dirigida pelo paulista Lima Barreto, como consultor de prosódia sertaneja. Terminou sendo o "autor" da trilha, interpretada por Vanja Orico, também atriz e filha de um político renomado, Osvaldo Orico. O sucesso da fita em Cannes elevou Zé do Norte ao Olimpo do cancioneiro popular nacional.

Vanja, assim como Elba Ramalho, Geraldinho Azevedo, Sandra Belê e Zé Paulo Medeiros, tem participação especial no belíssimo CD de Socorro Lira. Divide a interpretação de Sodade, Meu Bem, Sodade, uma obra-prima do lirismo sertanejo que, graças ao talento e à esperteza de Zé do Norte, se imortalizou. E, mercê da sensibilidade de Socorro Lira, encanta ouvintes de hoje, como antes já fizera.

Morto aos 71 anos, em 1979, Alfredo Ricardo do Nascimento levou para o túmulo o segredo do que seu heterônimo Zé do Norte realmente compôs ou do que retirou do limbo do anonimato nas brenhas para projetar na glória das execuções no rádio e na televisão pelo mundão além das porteiras do sertão. Socorro Lira, com a ajuda do pesquisador Assis Ângelo, outro paraibano, resgatou a obra e a saga de seu conterrâneo, mostrando que cada canção, por ele composta ou trazida a lume, vale esse preito à alegria, à malícia e à criatividade do sertanejo que, escolado nas manhas de sobreviver, fez-se malandro carioca de escol, chapéu de feltro e cachecol.


JOSÉ NÊUMANNE, JORNALISTA E ESCRITOR, É EDITORIALISTA DO JORNAL DA TARDE

DIÁRIO DA REGIÃO _ SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP)

Socorro Lira homenageia Zé do Norte

por Ariana Pereira, 26 de junho de 2010.

‘Lua Bonita’ marca comemorações do centenário de compositor e escritor
O novo CD de Socorro Lira, “Lua Bonita”, é uma homenagem ao centenário de Zé do Norte. Nascido em Cajazeiras, sertão da Paraíba, o homenageado é autor da imortal “Mulher Rendeira”, que Socorro regrava com outras dez canções compostas por ele.

“É um disco que eu queria fazer desde 2005, quando tomei contato com a obra do Zé do Norte. Conseguimos lançar agora, coincidindo com o centenário, comemorado em 2009”, diz Socorro Lira.

Entre as músicas estão “No Reino de Iemanjá”, “Rainha do Tamba” e “Vai Ver Quem Chegou”. O álbum conta com a participação especial de Elba Ramalho, em “Flor do Campo”, Sandra Belê, em “Balança a Rede”, Zé Paulo Medeiros, em “São Jorge e a Lua”, Vanja Onorico, em “Sodade, Meu Bem, Sodade”, Chico Corrêa, em “Sapato de Algodão”, e Geraldo Azevedo, em “Lua Bonita”.

“Os convidados foram escolhidos dentro do universo de artistas que já gravaram alguma canção do Zé do Norte. Conseguimos fazer uma boa mistura de estilos, com nomes reconhecidos e novos músicos que despontam no cenário nacional.” Além das faixas musicais, o álbum traz uma bônus recitativa, retirada do livro “Brasil Sertanejo”, escrito por Zé do Norte.

Socorro Lira tem dez anos de carreira e seis trabalhos autorais gravados: “Cantigas” (2001), “Cantigas de Bem Querer” (2003), “Intersecção - A Linha e o Ponto” (2006), “As Liras Pedem Socorro” (2007), “No Terreiro da Casa de Mãe Joana” (2009) e “Cores do Atlântico” (lançado somente na Europa, neste ano).

DIÁRIO DE MARÍLIA (SP)

29/06/2010 07:00:04
Socorro Lira canta Zé do Norte
Cantora resgata a obra do matuto paraibano em Lua Bonita

Quem não conhece “Mulher Rendeira”, “Sodade, Meu Bem, Sodade”, “Lua Bonita”? Ao ouvir o 4º volume do projeto Memória Musical da Paraíba, da cantora Socorro Lira o público irá se surpreender com a dinâmica com que se apresentam as composições de Zé do Norte, um dos mais importantes compositores paraibanos.

“Lua Bonita - Zé do Norte, 100 Anos” homenageia o compositor e dá ao público a oportunidade de passear por vários gêneros com muita leveza. Em entrevista ao Jornal Diário, Socorro Lira que nasceu na zona rural de Brejo do Cruz, na Paraíba e há quase dez anos se dedica a projetos culturais, conta da importância da disseminação da música.

Socorro diz que o que ficou conhecida como música nordestina foi o forró, o baião, o xote. Mas, vai muito além disto. Tem as congadas, reisados, cantoria de viola, gêneros não tão divulgados. E, Zé do Norte é um desses nomes que tinha o olhar sobre o Brasil. Isto beneficiou Socorro a passear pela diversidade rítmica e melódica do interior do Brasil.

Ela diz que a linearidade pode ser trabalhada. No CD os ritmos descem para a poesia e em outros momentos acelera novamente, lembra um pouco como acontecem as festas no Nordeste. “Lua Bonita” traz 12 faixas, todas de Zé do Norte.

Mas, antes de tudo, Socorro Lira é cidadã. Antes da arte como profissão - se vale da poesia e da música que escuta para se expressar - ela se coloca como pessoa nascida no sertão da Paraíba, no Brasil, na América Latina e foi nos movimentos sociais que aprendeu e foi formada com visão crítica. Uma pessoa inquieta, inconformada, por isso o que canta tem a ver com esta realidade e riqueza de vida.