segunda-feira, 19 de abril de 2010

Socorro Lira e o CD Lua Bonita


Apresentação Socorro Lira

Meu primeiro contato com a canção de Zé do Norte foi, ainda menina, no interior da Paraíba. Ouvia pelo rádio: Sapato de Algodão, Meu Pião, Mulher Rendeira... e outras. Mas foi por volta do ano 2005, quando cheguei a São Paulo, que tive um reencontro fundamental com a obra do autor. Visitando o acervo de Assis Ângelo me dei conta do quanto ela é bonita, valiosa e necessária ao Brasil, nesse momento.

Se hoje temos a necessidade e o dever de olhar para essas coisas que vêm do “interior” - visto que nos encontramos sem rumo em meio às encruzilhadas modernísticas e mercadológicas - Zé já o fez muito antes quando macumba, jongo, coco, catimbó, batuques... era coisa de um povo que não tinha voz fora dos espaços onde essa cultura ficava aparentemente resignada, embora viva e revolucionária como nunca. Este sertanejo, como estudioso da cultura popular, compositor e cantador pensava e sentia o Brasil com profundidade.

Percebi uma familiaridade incrível entre a minha canção e a de Zé do Norte, talvez por termos nascido tão perto, apesar de épocas distintas. Digo perto em todos os sentidos: Cajazeiras e Brejo do Cruz estão ali, no mesmo alto sertão paraibano.

O disco Lua Bonita foi quase todo gravado em 2009, justo ano do centenário de nascimento do homenageado. Mas só o terminamos em 2010 graças à generosidade dos meus convidados e convidadas que cantam e tocam comigo; de amigos e amigas que me apóiam nessas empreitadas. E, claro, pela participação do nosso principal apoiador, o Banco do Nordeste com sua equipe.

Reunimos aqui diferentes gerações e estilos, o país sem fronteiras de Zé do Norte.
Todos os momentos foram de profunda alegria e emoção como, por exemplo, o de gravar com a cantora e atriz Vanja Orico, hoje com a mesma vontade dos tempos da cantora cigana Boema, sua personagem no primeiro filme de Frederico Fellini. A artista dirigida, no cinema, pelo italiano e por Lima Barreto tem uma humildade de fazer inveja. Em 7 de novembro de 1968, em ataque dos militares contra estudantes, ela imortalizou a frase “Não atirem! Somos todos brasileiros!”no que considera o momento mais importante de sua vida.

Zé do Norte escreveu livros sobre o Brasil sertanejo; fez rádio no Rio de Janeiro onde apresentava o nordestinês; fez canções, gravou discos e chegou ao cinema com O Cangaceiro, ao lado de Vanja. Foi criticado em alguns aspectos da sua obra, mas deu sua contribuição. Tinha lá sua visão machista e fazia versos acusando a natureza “malévola” das mulheres - um “cadafalso” para os homens que não sabem o que fazer com um par de chifres.

Sou uma mulher de sorte. Estou feliz por propor à juventude da Paraíba, em especial, uma audição disso que é, também, tão nosso e que nos traduz tanto! A música de Zé do Norte se mistura com a nossa gente, com o Sertão, com o Nordeste, com nosso imenso Brasil.

Socorro Lira, São Paulo, março de 2010.

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